sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Refletindo Arte, Realidade e Representação

René Magritte - “A Traição das Imagens”

Nas aulas de arte da 8ª série começamos o ano refletindo sobre a Arte para, então, traçarmos, individualmente, um objetivo/meta para o curso, no ano letivo de 2010. Para o registro dos textos dos alunos, que explicitam seus objetivos/metas, foi utilizado o Portifólio, que nos acompanha desde a 5ª série.
Como fonte alimentadora dessa reflexão passeamos por Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Magritte e visitaremos, na próxima semana, nas vozes de Nara Leão, Fagner e Adriana Calcanhoto, Traduzir-se, de Ferreira Gullar.

A ARTE

A arte é um esquivar-se a agir, ou a viver. A arte é a expressão intelectual da emoção, distinta da vida, que é a expressão volitiva da emoção. O que não temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-lo em sonho, e é com esse sonho que fazemos arte. Outras vezes a emoção é a tal ponto forte que, embora reduzida à ação, a ação, a que se reduziu, não a satisfaz; com a emoção que sobra, que ficou inexpressa na vida, se forma a obra de arte. Assim, há dois tipos de artista: o que exprime o que não tem e o que exprime o que sobrou do que teve.

PESSOA, Fernando. Livro do desassossego. São Paulo: Cia das Letras, 2006. p.234.


AGUA VIVA

Clarice Lispector

Escrevo-te toda inteira e sinto um sabor em ser e o
sabor-a-ti é abstrato como o instante. É também
com o corpo todo que pinto os meus quadros e na
tela fixo o incorpóreo, eu corpo a corpo comigo
mesma. Não se compreende música: ouve-se. Ouve-
me então com teu corpo inteiro. Quando vieres a
me ler perguntarás por que não me restrinjo à pin-
tura e às minhas exposições, já que escrevo tão tos-
co e sem ordem. É que agora sinto necessidade de
palavras – e é novo para mim o que escrevo por que
minha verdadeira palavra foi até agora intocada.
A palavra é minha quarta dimensão.



Traduzir-se

Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —será arte?

O convite agora é que passemos a saborear o que os/as estudantes nos falam:


Era como um beijo dado no pescoço, por uma pessoa amada. Sentia meu coração apertado e sussurros de palavras doces feito mel em meus ouvidos.Me sentia tão, tão eu! Era quase como estar namorando meu reflexo, apaixonada pelos sorrisos cor de rosa que eu dava. Narcisista? Talvez, pelo menos agora chegava perto de algo chamado felicidade. Apesar de ser de repente esses suspiros e cantarolos surgiram dela, a música.A música causa em mim um tango, ou um ballet interno. Ela brinca com meus sentimentos e me alimenta de gotas de própolis que enriquecem minha alma. Mesmo nos momentos mais cinzas, obscuros e hipócritas, de autodúvida, auto-questionamentos, lá está essa velha e eterna amiga pra me fazer auto-suficiente e deixar em mim um conhecimento profundo.A arte não é única ou singular, a arte é um plural que cobre a todos que permitam que ela ensine, todos que saibam ouvi-la, entendê-la. Ela está ao nosso lado, dentro de lágrimas de alegria até mesmo dentro da solidão conjunta. No fundo do gesso cru está a mais bela escultura esperando um pássaro pra abrir as asas da imaginação e criar o que quiser.Arte não é um papel em branco, ou o desenho que rabiscam nele. Ela é a vontade que pressiona a mão contra o lápis sobre o papel e permite que ele dance, cante ou sorria para deixar marcas do pensado, pensável ou até mesmo do impensável.E é isso que pretendo com a arte, eternas gotas de própolis pra sustentar o vôo da minha imaginação.

Camila Damásio (8ªC)



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